Recentemente o o site Rio Show lançou uma matéria bastante interessante sobre as jóias arquitetônicas da nossa Cidade.
Pra quem é carioca e já está acostumado a conviver com estas maravilhas arquitetônicas no seu dia a dia, este post servirá para relembrar a importância histórica da arquitetura da nossa Cidade e para quem é de fora e ainda não conhece este acervo, este post servirá para demonstrar uma das razões porque somos considerados a “Cidade Maravilhosa”.
Convidamos a todos a viajar pela história da arquitetura nesta postagem e depois quem sabe visitar algumas destas maravilhas.
Referência em art déco
O pesquisador Márcio Roiter, que preside o Instituto Art Déco lembra que o movimento artístico surgiu na Europa em 1910, mas só bombou a partir da década de 1950 na arquitetura do Brasil, onde se imbricou com as linhas da cultura indígena marajoara e privilegiou os traços retos e harmônicos aliados ao brilho e ao luxo dos detalhes. A fachada do Teatro Carlos Gomes, que Roiter informa que já teve a marquise inteiramente iluminada, e os detalhes do cinema Roxy são dois grandes exemplos.

Foto: www.historiadocinemabrasileiro.com.br
— A disseminação do art déco também passa muito pelos navios, pois eles eram invenções do progresso de ponta e um dos veículos que simbolizavam a modernidade. A escadaria do Roxy foi feita de forma idêntica à do navio L’Atlantique, que os mais abonados frequentavam e conheciam bem, tornando-o imediatamente familiar entre a burguesia —, detalha o pesquisador.
O Rio é considerado uma das referências art déco da América Latina e tem mais de 300 prédios e construções no estilo, como o icônico prédio residencial Biarritz, na Praia do Flamengo, e o Edifício Mesbla, no Centro. Símbolo da cidade, o Cristo Redentor, com seus 38 metros, se configura a maior estátua art déco do mundo.
Entre outros pontos cariocas marcados pelo estilo que podem ser visitados — e curtidos —, estão o Bar Lagoa, patrimônio cultural carioca; a Livraria Cultura, que já foi o Cine Vitória; e o Clube dos Democráticos, onde acontecem bailes e shows.
- Bar Lagoa. Av. Epitácio Pessoa 1.674, Lagoa — 2523-1135. Seg a sex, das 18h às 2h. Sáb e dom, do meio-dia às 2h.
- Livraria Cultura. Rua Senador Dantas 45, Centro — 3916-2600. Seg e sáb, das 9h às 21h.
- Clube dos Democráticos. Rua do Riachuelo 91, Lapa — 2252-4611. Forró da Lapa: ter, às 20h. Grátis (mulher até 20h59m), R$ 10 (mulher; homem, até 23h) e R$ 15 (homem, após 23h).
- Cristo Redentor. Paineiras Corcovado, Estrada das Paineiras s/nº — 2225-7036. Seg a sex, das 8h às 16h. Sáb, dom e feriados, das 8h às 17h. R$ 60.
- Roxy. Av. Nossa Senhora de Copacabana 945, Copacabana.
- Teatro Carlos Gomes. Praça Tiradentes 19, Centro — 2232-8701.
Joias mouriscas
A influência moura transparece em alguns prédios da cidade. No Centro, tem a fachada do Teatro Riachuelo, que já foi Cine Palácio e Cassino Nacional Brasileiro, transformado em prédio neomourisco em 1901. Na Rua da Carioca, o palacete que é sede da Casa do Choro desde 2015 chama a atenção. A construção, de 1902, tinha o apelido de “mourisquinho” e abrigou o Lar das Crianças Israelitas. Depois, uma das salas foi escritório de João Alvino, que promovia rodas de choro com convidados do naipe de Jacob do Bandolim, Pixinguinha e Altamiro Carrilho. A prática já antecipava o futuro do lugar, onde hoje o choro se abriga entre amplas janelas ogivadas e uma torre coroada por uma cúpula que precisou de cuidadosa intervenção e renovação do sistema estrutural.
— João Alvino veio na inauguração e ficou encantado com a obra que fizemos aqui — diz Luciana Rabello, presidente da Casa do Choro.
Mas a estrela do mourisco no Rio fica em Manguinhos: tombado de Iphan, o Castelinho da Fundação Oswaldo Cruz data de 1918, um ano após a morte do sanitarista, que o rabiscou de próprio punho e passou a missão ao arquiteto português Luís Moraes Júnior. Entre inúmeros detalhes, se destacam as torres com cúpula de cobre, as janelas, a escadaria de mármore carrara e os mosaicos dos pisos, que lembram a tapeçaria árabe. Além de referência em pesquisa, a Fiocruz abriga atrações como o Museu da Vida, o borboletário e peças de teatro.

Foto: diariodorio.com
- Fundação Oswaldo Cruz. Av. Brasil 4.365, Manguinhos — 2590-6747.
- Casa do Choro. Rua da Carioca, 38, Centro — 2242-9947.
- Teatro Riachuelo. Rua do Passeio 38, Centro — 3005-3432.
Rio eclético
Alguns prédios têm características de diferentes estilos arquitetônicos. O Teatro Municipal, por exemplo, de 1909, é um dos mais exuberantes do chamado eclético. Foi criado pelo arquiteto francês Albert Guilbert com inspiração no Palais Garnier, da Ópera de Paris. Bem mais sóbrio, o prédio do Centro Cultural Banco do Brasil é do ecletismo tardio, com traços do neoclássico. A mistura também pode ser vista na Confeitaria Colombo, no Castelinho do Flamengo e no Museu Nacional de Belas Artes.
— O Municipal evoca a Belle Époque francesa em seu luxo, ao mesmo tempo que seu café é de estilo neobabilônico. O prédio do CCBB é de um neoclássico bem mais comum e urbano, mas com um átrio monumental. O Castelinho do Flamengo tem traços góticos e maneiristas, mas com colunas retorcidas e ornamentação sofisticada, querendo passar uma certa erudição de seus donos — explica o arquiteto Washington Fajardo.

Foto: theatromunicipal.org.br
- Teatro Municipal. Praça Floriano s/nº, Centro — 2299-1711. Sábado (13.05), as visitas guiadas (às 11h, 12h e 13h), têm preço especial: quatro ingressos por R$ 20.
Memória do período colonial
O que restou da arquitetura que vai de 1550 até o início da República é um testemunho de como era a sociedade na época do Brasil Colônia. Construções retangulares, calçamento pé de moleque e prédios públicos com paredes grossas para resistir a bombardeios são algumas de suas características. Um grande destaque da arquitetura do período é o Paço Imperial, erguido junto à antiga casa da moeda e ao armazém real. Datada de 1743, a construção, hoje tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no início serviu como residência, tendo sido casa dos governadores e dos vice-reis. Em 1808, com a chega da Família Real, foi transformada em Paço Real.

Foto: conhecendooriodejaneirodeverdade.blogspot.com.br
O espaço, que sediou eventos históricos como o Dia do Fico e a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, virou centro cultural em 1985.
— Infelizmente a prefeitura não passou o projeto do VLT pela Primeiro de Março, que possui essa joia da coroa da nossa arquitetura. O Paço é mais antigo que o império e é o conjunto mais importante do período colonial — enfatiza o arquiteto Carlos Fernando de Andrade, ex-superintendente do Iphan.
- Paço Imperial. Praça Quinze de Novembro 48, Centro — 2220-2991. Ter a dom, do meio-dia às 18h. Grátis.
O neogótico e o estilo manuelino
Local onde aconteceu o último baile da monarquia, a Ilha Fiscal guarda um dos ícones do neogótico brasileiro. O palacete, que foi um posto alfandegário construído por Dom Pedro II e hoje é um museu mantido pela Marinha, tem torres agulhadas e arcos de ogiva que remetem à Europa medieval. Além da visitação normal ao espaço, neste domingo de Dia das Mães, a programação será especial, com concerto do harpista Luis Zaracho.
O estilo também aparece em algumas construções religiosas da cidade. Em Botafogo, com direito a uma rosácea na fachada, a Paróquia Imaculada Conceição de Botafogo, mesmo parcialmente escondida pelo Viaduto Santiago Dantas, também dá um ar medieval à Praia de Botafogo. Na Praça Tiradentes, a Catedral Presbiteriana do Rio chama a atenção pela sua aparência inspirada na Catedral de Saint-Pierre, em Genebra.
Perto dali, o impressionante Real Gabinete Português de Leitura (que está na lista das 20 bibliotecas mais bonitas do mundo da revista “Time”) pertence ao estilo gótico manuelino, também chamado de gótico português — ou neomanuelino, descrito como uma resistência, com identidade nacional lusa, ao neogótico.
Com estátuas de Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Infante Dom Henrique e Luís de Camões na fachada, o lugar se transformou em biblioteca pública em 1900 e reúne 350 mil livros, sendo, no mundo, o maior acervo de literatura portuguesa fora de Portugal.

Foto: www.realgabinete.com.br
- Ilha Fiscal. Acesso através do Complexo Cultural da Marinha. Centro. Rua Dom Manuel 15, Praça Quinze — 2532-5992. Visitação de escuna (sábado e domingo) e de micro-ônibus (quinta e sexta), às 12h30m, às 14h e às 15h30m.R$ 30. Neste domingo (14.05), há concerto gratuito do harpista Luis Zaracho, com música latino-americana, às 16h.
Arte de se ver de joelhos
O barroco e o rococó estão presentes em praticamente todas as igrejas católicas históricas da cidade. O barroco se caracteriza pela ornamentação abundante e pelos desenhos variados e complexos das plantas e fachadas, com revestimento feito com materiais nobres. O rococó foi o estilo posterior, que tornou o barroco mais leve e iluminado, como explica a pesquisadora e professora da UFRJ Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira, especialista em arte sacra.
— A Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência (onde a talha dourada do interior causa impacto em quem adentra o prédio de fachada pouco exuberante) é a mais completa do barroco joanino. E a do rococó é a Igreja Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, que foi a primeira catedral da cidade — diz Myriam.

Foto: acervodigital.unesp.br
Autora da publicação “Barroco e rococó nas igrejas do Rio de Janeiro”, distribuída pelo Iphan, a pesquisadora mapeou 25 igrejas históricas que estão em funcionamento. Myriam observa que no Rio há dois estilos diferentes: o barroco italiano do século XVII, em que há o contraste entre sombras e luzes (caso do Mosteiro de São Bento), e o rococó francês, do século XVIII, fruto da efervescência econômica da antiga capital. Este segundo é o predominante nas igrejas cariocas.
— Para ter isso é preciso ter riqueza econômica. Por isso, aqui tem mais igrejas rococós e até barrocas do que em Ouro Preto — completa.
- Ordem Terceira de São Francisco da Penitência. Rua da Carioca s/nº, Centro. Ter a sex, das 9h às 12h e das 13h às 16h.
- Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé. Rua Sete de Setembro 14. Seg a sex, das 7h30m às 16h. Sáb, das 9h30m ao meio-dia.
- Mosteiro de São Bento. Rua Dom Gerardo 40. Dirariamente, das 8h às 18h. Missas com canto gregoriano: sáb, às 8h; dom, às 10h.
Ícones de concreto
O ponto forte da cidade é o modernismo. O Rio tem marcos do estilo como o Palácio Gustavo Capanema, que foi concebido por uma equipe que reunia estrelas como Le Corbusier (considerado a figura mais importante da arquitetura moderna), Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Affonso Eduardo Reidy. O prédio conta ainda com painéis de Candido Portinari e jardins de Burle Marx.
— O Rio é muito feliz culturalmente neste período. A cidade, ainda como capital e dedicada ao poder, aglutinava os debates nacionais. O Palácio Gustavo Capanema, que, infelizmente, ainda está em obras, sintetiza o conceito e a vanguarda da tecnologia brasileira para isso, como a ideia da pele de vidro, que causou espanto em vários países — diz Washington Fajardo, que há uma semana lançou o livro “Transformações urbanísticas” com a pesquisadora Patrícia Pamplona, sobre a evolução da cidade a partir de seus marcos arquitetônicos e mudanças urbanísticas.
Fajardo destaca também o térreo proeminente do prédio, seu grande pé-direito e o recurso chamado brise-soleil (quebra-sol).
Parte do time do Capanema, Affonso Reidy assina também ícones cariocas como o Museu de Arte Moderna (MAM), entre outros símbolos do modernismo.
Fajardo observa que, no caso do MAM, o edifício é um exemplo do chamado brutalismo, que trabalha essencialmente com o uso do concreto armado bruto, sem ornamentos e sem ocultar elementos como fiações e encanamentos.

Foto: warp.la
— A ocupação pela moradia também era uma preocupação forte do estilo e da filosofia do movimento, que abraçava o bem-estar social, pois o concreto armado barateou o processo construtivo — pondera Fajardo. — Com o gênio do Niemeyer, chega também o rompimento com a linguagem racional, e as construções se tornam fáceis de reproduzir e plásticas. Assim, o Brasil se tornou uma referência no uso do concreto. O Brasil não tem prêmio Nobel, mas tem dois prêmios Pritzker, que é o equivalente na arquitetura: Paulo Mendes da Rocha e Niemeyer.
- Museu de Arte Moderna. Av. Infante Dom Henrique 85, Aterro do Flamengo — 3883-5600.
Traços contemporâneos
A classificação arquitetura contemporânea esconde uma complexidade técnica e conceitual que embaralha até as cabeças mais sintonizadas com o assunto, mas ousadia tecnológica e arquitetônica — como o rompimento com a rigidez racional do modernismo —, funcionalidade, boa colocação na cidade e adoção medidas de sustentabilidade são algumas de suas características.
Ganhador do prêmio internacional MIPIM na categoria “Construção verde mais inovadora” em março, o Museu do Amanhã foi o primeiro museu brasileiro a receber o título. A tecnologia para captar energia solar e o uso das águas geladas do fundo da Baía de Guanabara no sistema de ar-condicionado foram alguns dos motivos para a escolha. Ano passado, a construção também venceu o britânico Leading Culture Destinations Awards, que o elegeu como o “Melhor novo museu do ano”.
— O arquiteto Le Corbusier dizia mais ou menos que uma construção de pé é engenharia, mas, quando ela emociona, é arquitetura. O Museu do Amanhã talvez seja o melhor trabalho do [arquiteto espanhol] Santiago Calatrava pelo mundo — diz o arquiteto Lauro Cavalcanti, diretor do Instituto Casa Roberto Marinho, que será inaugurado em dezembro no Cosme Velho.
A Cidade das Artes, também assinada por um arquiteto badalado internacionalmente, o francês Christian de Portzamparc, abriu plenamente em 2013. O complexo cultural passou por polêmicas como o gasto na construção, que ultrapassou R$ 500 milhões.

Foto: www.cidadedasartes.org
Outro exemplo de arquitetura contemporânea citado por Lauro Cavalcanti são os dois prédios que formam o Museu de Arte do Rio — o antigo Palacete Dom João VI e o novo, da Escola do Olhar — são unidos por meio de uma praça, uma passarela e cobertura em forma de onda. A ideia, como preza a boa arquitetura, é a união entre o antigo e novo de forma harmônica.
- Cidade das Artes. Av. das Américas 5.300, Barra — 3325-0102.
- Museu de Arte do Rio. Praça Mauá 5, Centro — 3031-2741.
- Museu do Amanhã. Praça Mauá 1, Centro — 3812-1800.
Fonte: rioshow.oglobo.globo.com, com inserção de fotos ilustrativas.